segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Enxoval

Troco meus pertences
De uma bolsa para outra
Ambas estão vazias
No cabelo, trago uma presilha
Que açoita cachos
Você questiona, eu desconverso
Há vazios demais em pouco espaço
Planejo mudança, tenho medo
Compro móveis, devaneios
Na parede da minha sala
Coloquei um disco de vinil.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O Vinho


Existem poucas coisas que me deixam verdadeiramente irritada, mas mesmo assim, com certeza, isso não em deixou calma.
Eu não sei por que eu fui àquela festa. Decidi no último instante, talvez por pressão dos amigos ou sei lá, o fato é que eu fui.
A primeira coisa que eu notei ao chegar lá é que eu estava cafona. Por mais que fosse uma festa a fantasia e que a maioria estava tentando imitar ridiculamente vampiros. Não posso culpar ninguém, talvez nem a mim mesma. Do que eu estava fantasiada? De garota louca perdida entre os anos de 1930 e 2030.
Eu cheguei na festa passou um garçom por mim com uma taça de vinho. Não pensei duas vezes em pegar, dando aquele olhar 43 para ele.
Tomei uma.
Duas.
Umas sete, talvez.
Então eu acordei, com uma infernal dor de cabeça. Estava deitada num sofá na área de casa com uma taça de Vinho pela metade.
O que eu fiz depois da sétima taça até as sete da manhã?
Boa pergunta.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Verde bandeira

Colo adesivos nas paredes
Do estômago
E regenero os exageros
Da noite passada
Meu DNA denuncia
Na minha expressão de poker
Tenho azar no jogo
E penso em ti

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Mais estranha do que as sensações estranhas normais. Girar e girar, subir e descer, sem chegar a lugar algum. Vertigem de carrossel na cabeça de meia criança inteira. Arrepio numa ferida viva. Cicatriz amarela de uma tarde nublada. Música de uma história que não se quer contar. Alguém querido e, vento. Muito vento no embaraçar de cachos virgens, de uma apatia escondida atrás da orelha no ranger do velho. Não poder conter-se e restar apenas chorar. Lágrimas coloridas. Algo difícil. Uma queimação no dedo mingo do pé. Estar livre. Sentir-se assim, leve. Naquele curto espaço de tempo, instantes mágicos, onde nada pode abalar, onde a vida é bela. Fechar os olhos, estar segura. Não ter medo, nem nada.
Luiza Cerávolo

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O calo

Tenho um calo
Permanente
No dedo médio.
Culpa do lápis
E do coração inquieto.
Na verdade,
Desde criança,
Acho bonito
O dedo deformado.

terça-feira, 13 de outubro de 2009




A vida custa-lhe a morte. A estrela torna-se um profundo escuro e, de olhos abertos, cegueira, sufocando-se, cegueira. No paralelo, o mar espuma-se branco num falso reflexo, ao som que a mouca escuta atenta. Gritar não é o suficiente na retórica dos mudos, por isso, canta na tela branca da mente, mais lembrança do que existência. Tenta uma lágrima que se desfaz na própria origem para o mundo. Não sente o vento. Respira água. Cospe sangue. Seus tecidos secam. Seus lábios são silenciados por um frio salgado. Suas pálpebras fechadas para eternidade num derradeiro ralar da pele. Cócegas nas maçãs do rosto. Cabelos como ondas entre bolhas de ar. Uma súplica por um suspiro. A dor inevitável e um último badalo do coração nos ouvidos. A noite brilha mais que o dia e, a morte levanta-se para dançar.



Luiza Cerávolo

domingo, 11 de outubro de 2009

22 gatos pretos

O que seria do café da esquina, sem meus lábios magros para dar destino?
O que seria da estante, sem minhas mãos frias para remexer?
O que seria do jornaleiro, sem meu trocado amolgado para pagar o cigarro?
O que seria da fotografia, sem meus olhos para reconhecer?
O que seria do rádio, sem meus ouvidos dispersos, meu sorriso involuntário?
O que seria dos meus 22 gatos pretos, se anunciassem meu corpo inativo?
O que serei, quando já não for?

domingo, 4 de outubro de 2009

Distância

A distância não tem medida.
215, 11 mil kilometros, não importa.
A distância só precisa ser grande o bastante
para impedir minha mão de tocar a tua.
O oceano Atlântico, as montanhas do teu continente,
isso tudo é irreal.
O que caracteriza a minha distância
é não ter tua pele
meticulosamente ariana
perto da minha.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

342º Dia

Já perdi a conta do tempo. Não sei mais que dia é. Sinceramente, hoje parece terça. Eu falaria que é terça, se ontem e antes de ontem também não parecessem terça-feira.
Sempre me irritei com o barulho. Mas a falta dele também me irrita.
Estou absolutamente sozinha aqui. Com quem, ou com o que, eu poderia me irritar? Não vale a pena cuspir palavras estúpidas ao único travesseiro impecável e inocente.
Ao mesmo tempo tudo é único e tudo é apenas mais uma coisa. Ainda não encontrei o sentido. Como encontrarei o sentido para o nada?
Aprendi o valor das palavras pela ausência delas. Elas vivem apenas na minha mente, ecoando tão rápido que às vezes sou obrigada a gritar “Calma! Eu não te acompanho”. E elas não me obedecem, simplesmente continuam a festejar sem dó, criando ideias impossíveis de serem executadas, sendo que eu apenas tenho o nada.

domingo, 13 de setembro de 2009

Fúnebre

Eu sinto frio. Talvez pelo fato de estar em um cemitério, e cemitérios são frios, certo? Porém, o sol é forte e estou com um vestido preto, justo obvio, e isso deveria me deixar com calor.
A marcha fúnebre melosa e os tapinhas no ombro de falso consolo me irritavam. Não mais, talvez, que o olhar intrigado das pessoas me fuzilando curiosamente. “Como ela está magra” eu podia ouvi-los sussurrar, junto aos comentários de “como está pálida”. Mas o que eles pensam? Eu sou magra. Eu sou pálida. Caramba! Estou num cemitério, presenciando o enterro, querem mais o que? Dias atrás, antes daquele acidente de carro, minha palidez e o fato de ser magra não eram sussurros assustados, e sim, exclamações de admiração.
As pessoas são falsas. Na hora do enterro você consegue perceber exatamente isso. Mas nem por isso desejo a você o que passo agora.
A mãe começou a chorar. Queria poder dizer a ela não fazer isso. Não se deve chorar pelo que já perdeu, e sim, pelo que vamos perder.
Lacraram meu caixão. Ninguém podia fazer nada por mim, nem eu mesma, pois já estava morta.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Dos dias inteiros

Visto meias velhas
que não machucam os pés
A semana tem sido desumana
Tento desfazer os mal-entendidos
Não consigo
Minha silhueta fora de forma
não satisfaz o espelho
E eu divago, para longe da resposta.

A. Raspini

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Rasgado

Olá,
Essa é uma das minhas produções recentes.
Assim que os novos contos estiverem prontos, posto aqui

Rasgado
Beatriz Vieira
http://www.cartasaoavesso.blogspot.com

Suas mãos buscavam tocar a ferida próxima do umbigo. A sensação úmida o fazia pensar que estava sangrando. Buscava ser doce com seu corpo, mas realista com suas frustrações.
Com um cobertor de pelos que cheirava a guardado e suor ele tentou proteger sua chaga. Esfregou os dedos no travesseiro para limpar do líquido que escorria da ferida e voltou a dormir.
Rompeu a noite em transgressões. Mas ao acordar via que era romântico demais para realizar o que os sonhos mostraram. Por isso negava o tempo todo suas indagações:
- Não poderia fazer um café para mim?
- Você não me sabe dizer onde fica essa rua?
- Não quer me ajudar ..?
Não, ele não queria mudar o sonho, e também não queria limpar a ferida.

sábado, 29 de agosto de 2009

ASAS ABERTAS

Asas abertas,
Vontades, feridas.
Asas abertas,
Cicatrizes, antigas.

Asas abertas,
Cortes, segredos.
Asas abertas,
Meus traumas, teus medos.

Cruzando estradas incertas,
Estranhas, desertas,
Mas ainda assim,
De asas abertas.