domingo, 13 de setembro de 2009

Fúnebre

Eu sinto frio. Talvez pelo fato de estar em um cemitério, e cemitérios são frios, certo? Porém, o sol é forte e estou com um vestido preto, justo obvio, e isso deveria me deixar com calor.
A marcha fúnebre melosa e os tapinhas no ombro de falso consolo me irritavam. Não mais, talvez, que o olhar intrigado das pessoas me fuzilando curiosamente. “Como ela está magra” eu podia ouvi-los sussurrar, junto aos comentários de “como está pálida”. Mas o que eles pensam? Eu sou magra. Eu sou pálida. Caramba! Estou num cemitério, presenciando o enterro, querem mais o que? Dias atrás, antes daquele acidente de carro, minha palidez e o fato de ser magra não eram sussurros assustados, e sim, exclamações de admiração.
As pessoas são falsas. Na hora do enterro você consegue perceber exatamente isso. Mas nem por isso desejo a você o que passo agora.
A mãe começou a chorar. Queria poder dizer a ela não fazer isso. Não se deve chorar pelo que já perdeu, e sim, pelo que vamos perder.
Lacraram meu caixão. Ninguém podia fazer nada por mim, nem eu mesma, pois já estava morta.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Dos dias inteiros

Visto meias velhas
que não machucam os pés
A semana tem sido desumana
Tento desfazer os mal-entendidos
Não consigo
Minha silhueta fora de forma
não satisfaz o espelho
E eu divago, para longe da resposta.

A. Raspini

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Rasgado

Olá,
Essa é uma das minhas produções recentes.
Assim que os novos contos estiverem prontos, posto aqui

Rasgado
Beatriz Vieira
http://www.cartasaoavesso.blogspot.com

Suas mãos buscavam tocar a ferida próxima do umbigo. A sensação úmida o fazia pensar que estava sangrando. Buscava ser doce com seu corpo, mas realista com suas frustrações.
Com um cobertor de pelos que cheirava a guardado e suor ele tentou proteger sua chaga. Esfregou os dedos no travesseiro para limpar do líquido que escorria da ferida e voltou a dormir.
Rompeu a noite em transgressões. Mas ao acordar via que era romântico demais para realizar o que os sonhos mostraram. Por isso negava o tempo todo suas indagações:
- Não poderia fazer um café para mim?
- Você não me sabe dizer onde fica essa rua?
- Não quer me ajudar ..?
Não, ele não queria mudar o sonho, e também não queria limpar a ferida.