terça-feira, 31 de agosto de 2010

Big Bang


O espelho

vermelho

da tua retina

fina

reflete o prenúncio

de um pequeno Big Bang.

Teu olhar de ciclope

devora assim,

a galope,

minha matéria em desapego

e agora

pobre de mim,

virada em buraco negro.


domingo, 22 de agosto de 2010

Kinderdijk

Limpo gavetas,
Eu poderia escrever um livro sobre gavetas.
Observo esses garotos,
Esses feitos de areia.
Me espanto e me rio
Da areia, do vazio
Das gavetas
Dessas páginas
Qual infinitos inoportunos
Nas velhas sombras sinestésicas
De moinhos de éter.
A personificação do despropósito.

sábado, 7 de agosto de 2010

Juízo inicial

     - Me ofereceram uma maçã, eu estava com fome... Aceitei oras. O que há de errado nisso? Também não é fácil viver num mundo perfeito. Não que eu desejasse o mal para a humanidade, é claro.
     O juiz quem fez a pergunta desta vez:
     - E você não ouviu as palavras de Deus?
     -Eu não raciocinei na hora, a serpente me convenceu. Uma tentação é uma tentação, fez uma pausa encarando a expressão mármore do júri. Aliás, era só uma maçãzinha.
     O julgamento prosseguiu, a moça agora coberta saiu da sala. Em seguida a serpente entrou no tribunal rastejando rapidamente até o banco dos réus. Ela aguardava sua vez com ares de quem esconde uma carta final nas escamas.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sobre a escrita e os pensares

Penso, logo escrevo...
uma escrita desvairada
dança insana de palavras
rebanho literário.

Escrevo porquê penso demais
ou de menos...
na inconsequência das idéias
na cadência dos fonemas.

Não penso no que escrevo...
uma avalanche de letras ansiosas
esbarram-se em uma obra
que soa psicografada.

Às vezes penso que escrevo,
e uma traição manual
delata a ignorância
disfarçada de intelecto.

Matemática inexata

A conta (impagável)
da nossa história (inglória)
te apresento agora:
de lucro , uns cem contos
dos erros, um des-conto.