domingo, 13 de setembro de 2009

Fúnebre

Eu sinto frio. Talvez pelo fato de estar em um cemitério, e cemitérios são frios, certo? Porém, o sol é forte e estou com um vestido preto, justo obvio, e isso deveria me deixar com calor.
A marcha fúnebre melosa e os tapinhas no ombro de falso consolo me irritavam. Não mais, talvez, que o olhar intrigado das pessoas me fuzilando curiosamente. “Como ela está magra” eu podia ouvi-los sussurrar, junto aos comentários de “como está pálida”. Mas o que eles pensam? Eu sou magra. Eu sou pálida. Caramba! Estou num cemitério, presenciando o enterro, querem mais o que? Dias atrás, antes daquele acidente de carro, minha palidez e o fato de ser magra não eram sussurros assustados, e sim, exclamações de admiração.
As pessoas são falsas. Na hora do enterro você consegue perceber exatamente isso. Mas nem por isso desejo a você o que passo agora.
A mãe começou a chorar. Queria poder dizer a ela não fazer isso. Não se deve chorar pelo que já perdeu, e sim, pelo que vamos perder.
Lacraram meu caixão. Ninguém podia fazer nada por mim, nem eu mesma, pois já estava morta.

Um comentário:

  1. Tua cara, ne, Bia? Sempre mostrando a historia do ponto de vista mais inusitado. Achei bem bacana! =D Poste mais vezes! ;-)

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