O sol escondia-se na Pedra do Cachorro e a Voz do Brasil saía do radinho na janela aberta.
Oliveira xingava políticos, reclamava do salário mínimo e comentava o resultado da última safra de arroz. Ele falava, falava... Mudava de posição na cadeira de palha. Ela não respondia. Nem balançava a cabeça, nem resmungava um simples “aham” entre suas esperançosas pausas. Talvez os assuntos não a interessassem, talvez o próprio Oliveira não a interessasse.
Se fosse outra pessoa, ficaria com muita raiva, mas ele não, Oliveira era paciente e vivido. Além disso, não se incomodava com pouca coisa. E mesmo aquele monólogo o entretinha.
Oliveira aos seus oitenta e poucos anos, sentado na varanda do asilo, conversava com uma planta, como quem conversa com gente. E a margarida olhava-o com uma expressão de tristeza, já sem uma pétala, parecia não entender o que aquele homem de meias compridas tanto falava.
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